A cidade brasileira de Atafona mergulha no oceano

A cidade brasileira de Atafona mergulha no oceano
A cidade brasileira de Atafona mergulha no oceano
Anonim

Décadas atrás, Julia Maria de Assis pensava que um dia assumiria a gestão de um hotel que seu pai começara a construir em Atafona, cidade litorânea do norte do estado do Rio de Janeiro.

Mas a própria atração que atraía os turistas a Atafona - o mar - tornou-se seu inimigo. O avanço da água colocou o hotel em espera até que o poder do oceano finalmente o destruiu. Quase 500 outros edifícios foram destruídos nos últimos 13 anos.

"Devia haver 48 quartos aqui - um grande hotel que nunca começou", diz Assis, 51, ao lado dos escombros que outrora constituíram o sonho de sua família. "Embora a estrutura do hotel fosse sólida, toda vez que as ondas atingiam o prédio, elas o danificavam e eventualmente ele desabava."

Há meio século, o Oceano Atlântico engole implacavelmente Atafona, parte do município de São João da Barra, a 250 quilômetros da capital, Rio de Janeiro, e onde vivem 36 mil habitantes. Devido às mudanças climáticas, há pouca esperança de uma solução. Em vez disso, Atafona desliza para o mar.

“Às vezes a água chega aos meus joelhos. Meu maior medo é que um dia ela tome minha cabana”, diz a pescadora Vanesa Gomez Barreto, de 35 anos, em uma barraca onde vende seu pescado. "Havia uma capela, uma padaria. Era uma cidade muito grande, da qual só sobrou um pedaço. O mar engoliu tudo."

O rio Paraíba do Sul, que nasce no vizinho estado de São Paulo, traz sedimentos e areia para Atafona, onde deságua no Oceano Atlântico. Na década de 1950, seu escoamento foi em grande parte desviado para abastecer a crescente capital paulista, o que enfraqueceu a barreira natural de Atafona para o oceano, diz Pedro de Araujo, professor de tecnologia de materiais do Instituto Federal Fluminense.

“Quanto menos sedimentos e areia estabilizaram o litoral, resultou no mar devorando a cidade”, diz Araujo, que está fazendo seu doutorado analisando a erosão do rio e tentando modelar o que isso significará para seu delta no futuro. Ele estima que o rio tenha um terço de sua vazão original.

O desmatamento de manguezais nas últimas décadas também tornou Atafona mais vulnerável, diz Araujo. Segundo o professor, a posição média do mar se desloca cinco metros para o interior a cada ano.

Especialistas avaliaram possíveis soluções, como construir barreiras artificiais ou despejar grandes quantidades de areia, mas nenhuma delas parece eficaz o suficiente para impedir o avanço do oceano. O aumento global do nível do mar devido ao derretimento do gelo significa que a destruição continuará, e em um ritmo mais rápido, disse Araujo.

As pessoas costumam perguntar a Assis, que pensava que ela herdaria o hotel, se ela estava chateada com a reviravolta na sorte de sua cidade. Ela diz que é grata por ter nascido em Atafon, mas que as pessoas deveriam respeitar a natureza.

“Tenho saudades da casa onde passei o verão”, disse ela, apontando para o mar. "Ele está no fundo do Oceano Atlântico."

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